Mesquita Bastos

Mesquita Bastos

Pres. da Soc. Port. Hipertensão

O sal e a Dieta Mediterrânica, os alertas para a mudança, a prevenção em alguns hábitos alimentares: estes são alguns dos tópicos partilhados por Mesquita Bastos, presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão, nesta conversa sobre o consumo de sal em Portugal.

Qual é a quantidade máxima de sal recomendada por dia?
A quantidade máxima recomendada são cinco gramas, quantidade que cabe numa colher de chá.

Em Portugal o consumo de sal excede os valores recomendados?
Em Portugal consumimos, em média, 10.6 gramas por dia.

Quais são os principais impactos na saúde dos consumidores?
Por um lado, o sal provoca o aumento da tensão arterial, que por sua vez vai afectar o coração e o cérebro. Ao afectar o coração e o cérebro poderá vir a provocar um AVC (Acidente Vascular Cerebral) ou um enfarte miocárdio (no caso do coração). Está igualmente provada a associação entre o sal e outras doenças, tais como o cancro do estômago, a obesidade e a osteoporose. A redução do sal actua em vários níveis e o seu benefício é grande.

Acha que as pessoas estão cientes da quantidade de sal que consomem?
O ano passado foi feita uma sondagem, onde se verificou que a maioria das pessoas tinham noção onde estava o sal, que faz mal e que estavam a tentar reduzir o seu consumo. O problema do sal está no chamado “sal escondido”. Todos os produtos que tenham conservantes têm um alto teor de sal e este deve ser reduzido. É necessário que esta alteração seja feita sem que o consumidor o perceba. Podemos falar no caso do pão e na aceitação pela parte da população na redução dos valores do sal. Neste momento a quantidade de sal no pão está abaixo da lei. É a prova de como é possível diminuirmos o consumo de sal, mas é um trabalho que tem de ser feito paulatinamente, de forma a que o consumidor consiga integrar mais facilmente [a variação de sabor demora 22 dias a ser aceite].

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O Pingo Doce tem tido a preocupação de reduzir o sal nos seus produtos, promovendo hábitos alimentares saudáveis. Por exemplo, entre 2011 e 2015, reduziu perto de 50 toneladas de sal nos seus produtos. Que impacto poderá ter esta reeducação junto dos consumidores?
Não se deve dizer ao consumidor que os produtos têm menos sal. O consumidor vai achar que os produtos vão perder qualidade. A grande mudança deve ser feita de forma silenciosa e gradual, provavelmente como o Pingo Doce foi fazendo nos seus produtos. É um grande exemplo para a sociedade, fazer ver que é possível reduzir o sal e concluir que os consumidores continuam satisfeitos.

Fala-se em educação nos hábitos alimentares. Qual é o ponto de partida para criar mudanças?
A sociedade não é fundamentalista. Não pretende acabar com o queijo da Serra, nem com o bacalhau. Queremos melhorar os hábitos alimentares e é possível fazê-lo. Há dúvidas de que os portugueses, em casa, consigam perceber quantas gramas de sal estão a consumir. Primeiro temos de ter noção do que estamos a usar no dia-a-dia. Um bom exemplo são as ervas aromáticas. A maioria da sociedade não tem conhecimento de que as ervas aromáticas são um substituto do sal. É possível fazer bons pratos utilizando mais ervas aromáticas e menos sal. É um passo fácil de dar.

Depois da redução da quantidade de sal no pão, que medidas futuras estão a ser tomadas para reduzir a quantidade de sal noutro tipo de alimentos?
Quando a campanha foi discutida no Parlamento propusemos uma reformulação, já que defendemos que se deve baixar ainda mais o sal no pão, para 1 ou 1.1 gramas. Também a educação deve ser reforçada, através de uma divulgação de forma lúdica do conceito de vida saudável e do risco cardiovascular. Seria muito interessante que esta área fizesse parte do programa educativo nas escolas, que as crianças fossem crescendo naturalmente com estes conceitos. Há ainda uma outra área muito importante e que estamos longe de chegar lá, que é a restauração. Está a ser preparado um documento a ser entregue ao poder político para alterar as quantidades de sal.

A Dieta Mediterrânica pode ser uma aliada fundamental no papel da educação alimentar?
Um estudo realizado numa tese de mestrado mostra que a Dieta Mediterrânica, quer seja feita com azeite ou com óleo de noz, diminuiu, e muito, a morte por causa cardiovascular. O azeite é um óptimo alimento e deve ser utilizado no equilíbrio correcto. A Dieta Mediterrânica é eficaz e diminui a morte por enfarte e por AVC.

SAIBA MAIS: 20 receitas da Dieta Mediterrânica

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As crianças e o consumo de sal

Educar as crianças para um baixo consumo de sal é um bom ponto de partida para prevenir doenças graves. Ao elaborar as suas compras evite os alimentos com elevadas quantidades de sal, especialmente quando se dirigem a crianças. Tenha presente que os níveis de ingestão de sal nas crianças devem ser inferiores às recomendadas para os adultos. Cozinhe com pouco sal e não deixe que os seus filhos criem o hábito de adicionar sal nos pratos.

No Pingo Doce

Desde 2006 que as marcas próprias do Pingo Doce apresentam informação nutricional. Privilegiamos a rotulagem transparente e objectiva, com a correcta aplicação das doses ou porções. Não atribuímos cores, já que julgamos serem elementos de distracção e que podem ser incorrectamente interpretadas.